segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os Gêneros da Moda


Na aula anterior, estudamos o texto O Antagonismo do livro “O Espírito das Roupas” (Gilda Melo de Souza), que nos revelou o uso da indumentária como um fator que ressalta as diferenças homem/mulher. Esteticamente, desde a Idade Média até o século XIX, a moda vai sendo construída sobre alguns pilares: forma, cor e tecido. O importante quanto à descrição dos pilares acima é verificar que, a partir de um determinado momento houve, no vestuário, uma separação entre homem e mulher, aonde cada qual tinha com muita clareza a sua forma, cor e tipo de tecido que lhe cabia naquele contexto.                                                                                                                                                                                O Antagonismo nos traz uma descrição mais detalhada quanto à diferenciação do vestuário masculino e feminino, retratada no trecho: “[...] todo um conjunto de diferenças acentua através da roupa as características sexuais, modula de modo diferente a voz da mulher, produz um vagar maior dos movimentos, um jeito de cabeça mais langue sobre os ombros.” 

No século XIX, o antagonismo homem/mulher apresenta-se retratado de forma acentuada no vestuário. Criaram-se duas formas distintas:                                                                

[...] a indumentária masculina evoluiu na sua trajetória de um “oblongo em pé”, sólido dos ombros aos tornozelos, ao segmento de uma estrutura assemelhando-se no desenho a um H. A feminina como “símbolo básico de sua construção um X.” Ademais, o espírito sedutor das roupas femininas repletas de rendas, fitas e brocados, praticamente desaparecem da indumentária masculina que se caracteriza por um crescente despojamento, “do costume de caça do gentil-homem inglês para o ascetismo da roupa moderna.                                                                                                     
 
É interessante ver as mudanças da vestimenta feminina ao longo do século XIX.                             Quanto à forma, o vestido feminino primou-se pela simplicidade, abolindo os espartilhos, anáguas, saltos altos, dando primazia ao vestido estilo camisola branca atada debaixo dos seios. Nessa fase, privilegia-se o exibicionismo do corpo, com tecidos leves e transparentes e com o uso de turbantes ou “poke-bonnet” ou chapéu de palha campesino.

                                                                                                                                                                     
 
Por volta de 1820, de acordo com Souza, a cintura volta à sua posição normal, e a                          figura se constrói por um sistema de triângulos, ou seja, chapéu enorme, mangas bufantes, cintura marcada, saia ‘triangular’.  



A partir de 1830, há uma mudança fundamental nos desenhos: mangas justas nos ombros e largas nos pulsos, escondendo as mãos dentro de ordens superpostas de rendas e babados: é a forma em pagoda. O traje é simples com inspiração vinda dos séculos XIV e XVII e a figura se constrói em torno dos ângulos góticos: “a cintura abaixa, o corpete fica pontudo, o decote desce em forma de V acentuando a estreiteza do busto, a saia apresenta uma abertura na frente”.

 
Outra mudança a partir de 1855: introduz-se a crinolina e os xales e mantilhas escondem a cintura.Em 1859, com o aperfeiçoamento das máquinas de costura, criadas em 1830, o vestuário começa a ficar mais rico em detalhes. Em 1884, há um interesse em destacar as costas: penteado em cascatas, presença da cauda nos vestidos, anquinha é atirado para cima e a frente do vestido se torna quase rígida. O final do século XIX, a forma do vestuário apresenta uma variação tubular do corpo feminino, transformando a mulher num milagre de curvas. 




As cores acompanham a complexidade das formas, passando dos tons pálidos para os “belos tecidos floridos e o esquema cromático se apura as cores vivas sendo mais apropriadas aos trajes de jantar, e as claras – rosa, limão, azul – ao baile e à Ópera”. A roupa masculina é o contrário da feminina, apresentando-se em tons muito discretos, principalmente após 1840 que traz a moda do preto para os trajes masculinos. Por fim, o tecido apresentou-se também como uma forma de distinguir homens e mulheres. Isso porque, até o século XIX, tal distinção inexistia no que tange aos tecidos.

Até 1850, as fazendas vaporosas eram permitidas somente às mulheres, por exemplo, a batista, musselina, tarlatana, organdi. Os tecidos pesados como veludo, seda adamascada, brocados, tafetás cambiantes, gorgorão, cetim são característicos da segunda metade do século XIX. Nos vestidos de rua, mais simples, predominavam o uso de linho-e-seda e da lã-e-seda. Já aos homens fica restrito o uso do linho e da lã, bem diferente do luxo outorgado às mulheres:
Mais do que em épocas anteriores, ela afastou o grupo masculino do feminino, conferindo a cada um uma forma diferente, um conjunto diverso de tecidos e de cores, restrito para o homem, abundante para a mulher, exilando o primeiro numa existência sombria onde a beleza está ausente, enquanto afoga a segunda em fofos e laçarotes. [...] Para a mulher a beleza, para o homem o despojamento completo.


É interessante salientar que a moda masculina ficou, a partir do século XIX, em segundo plano, pois outros fatores passaram a destacar o sexo masculino na sociedade, tais como a inteligência, dignidade, talento e competência. “A beleza passou a ser privativa da mulher”, havendo, no século XIX, uma separação clara entre dois mundos: o feminino o masculino. Contudo, tais mundos se completam, conforme Gilda de Mello expõe:                                                                                                                                      “encanto feminino e a determinação masculina não se excluem mutuamente: na verdade, são parcelas que se somam na contabilidade astuciosa da ascensão. A graça de trazer o vestido, de exibir no baile e os braços e ombros, fazendo-os melhores “por meio de atitudes e gestos escolhidos”, é simétrico ao talento e ambição, exigidos pela carreira."



Com a Revolução Industrial, o aparecimento das classes burguesas, o desenvolvimento dos centros urbanos e a produção em maior escala de produtos como roupas, alimentos e tecidos, a mulher burguesa viu-se num quadro de ociosidade, com funções domésticas reduzidas devido ao desenvolvimento.
A sociedade passou a exigir dessas mulheres o papel de esposa. Então, o objetivo delas era se preparar para um bom casamento. Caso contrário, a mulher “via seu prestígio na sociedade diminuído, dedicando-se ao trabalho remunerado descia imediatamente de classe”.
Até então, vimos que, na primeira metade do século XIX, a moda era uma das únicas atividades permitidas ao mundo da mulher e através da moda esta buscava uma identidade, que aparecia num vestuário complexo e rebuscado.
Entretanto, com o interesse feminino pelas profissões, a partir da segunda metade do século XIX, cria-se um impasse para a mulher:
[...] a carreira, privativa do homem e compreendida, como vimos, em termos de austeridade do traje, obrigava-a a desinteressar-se do adorno e a renunciar ao comportamento narcísico, [...] lançando-se no áspero mundo dos homens, a mulher viu-se dilacerada entre dois pólos, vivendo simultaneamente em dois mundos, com duas ordens diversas de valores. Para viver dentro da profissão adaptou-se à mentalidade masculina da eficiência e do despojamento, copiando os hábitos do grupo dominante, a sua maneira de vestir, desgostando-se com tudo aquilo que, por ser característico do seu sexo, surgia como símbolo de inferioridade: o brilho dos vestidos, a graça dos movimentos, o ondulado do corpo.  

  A busca de realização profissional, trazendo a mulher para o mundo do trabalho, refletiu na mudança da sua imagem visual que passou a se adequar ao masculino para ser aceita e ter credibilidade na carreira.    

          
  
A moda feminina passou por diversas transformações sendo incorporadas ao vestuário da mulher peças masculinas. Tal transformação foi um reflexo na mudança do papel da mulher na sociedade no período do século XIX para o século XX, uma vez que essa deixou de ser uma pessoa sem expressão intelectual e passou a ocupar um espaço no mundo profissional que antes era somente dos homens.                                                                                                                                                       A roupa irá refletir a identidade da mulher que a veste e muitas vezes essa identidade encontra-se perdida.
Desde então muita coisa mudou,  não só com a introdução de peças masculinas no vestuário feminino ou vice e versa, mas também em alterações da vestimenta tanto do homem quanto da mulher.
Vivemos na era da praticidade e das divergências de gostos, de grupos, de classes...
Atualmente é possível observar uma multiplicidade de estilos. Ao longo da década de 90 houve o fortalecimento de um processo de mudança, que veio da necessidade, especialmente dos jovens, de identificar-se com o outro. As subculturas ganharam força; os jovens passaram a se reunir em grupos de indivíduos semelhantes entre si. Embora houvesse semelhança entre os membros de um grupo ou tribo, definitivamente há uma subjetividade que os diferencia.
No mundo contemporâneo, praticamente tudo é usado. A criatividade e a personalidade são os principais elementos componentes dos estilos.
   
                                                                         


domingo, 15 de agosto de 2010

A relação entre moda e arquitetura está no mix que ambas utilizam para se expressar, como por exemplo, a arquitetura utiliza de elementos clássicos e modernos numa mesma construção. Enquanto na moda pode-se notar a mistura de texturas e estampas numa mesma peça. Já relacionando a pintura com a moda inúmeros estilistas baseiam-se em obras de arte para fazem suas roupas e desfiles, alguns exemplos são:

Yves Saint Laurent - Matisse


John Galliano - Monet  






Emanuel Ungaro - Warhol


















Nesse momento podemos começar uma grande discussão : MODA é ARTE?
Primeiro há quem pense que não se pode chamar moda de arte pelo fato da moda estar relacionada à elite do dinheiro e ao consumismo, enquanto a arte é uma representação da sensibilidade. Porém, ambos os lados, moda e arte, visam a criação de algo original, baseado ou não nos estilistas e artistas que já mostraram seu trabalho. Estilistas trabalham com volumes e formas, assim como os arquitetos. Designers utilizam e brincam com as cores, da mesma forma que os pintores. O tecido é uma tela para o coutourier. Deduzindo que moda também é arte.
Para escrever esse primeiro post, tive várias discuções com minhas colegas de turma, e em uma delas com a Carolina chegamos a uma conclusão: moda é pura performance!


Kisu.*